DICA DE LEITURA - (SAIBA) PARA SERVE A POESIA HOJE?
Nas vésperas do 10 de Letra – Jornadas Literárias,
subordinadas ao tema “Para que serve a literatura?”, surripiei o título deste
texto ao livro de Jean-Claude Pinson (edição da Deriva, 2011) para, com ele,
destacar que a poesia tem, numa perspetiva minimalista e deflacionista, um
poder terapêutico, porque é “uma forma de curar a alma, de cuidar as suas
feridas, mediante um jogo com a linguagem”, sendo que, apesar disso, a poesia
não tem por missão “remediar” o que quer que seja, “que não faz parte do seu
papel ser “positiva”, mas, antes, que a sua virtude reside no “trabalho do
negativo” inerente ao seu empreendimento de confusão do sentido e de destruição
dos usos convencionais da linguagem”.
Além disso, a poesia
recusa a lógica exclusiva da mensagem e da comunicação, sublimando a letra em
detrimento do sentido ou abrindo a palavra a um impossível não-lugar a habitar.
Neste sentido, a poesia tem uma (meta)física, na medida em que solicita, mais
do que a nossa inteligência narrativa, uma compreensão “afetiva”.
O poema, afirma Pinson,
“faz vibrar em nós a corda enigmática do tempo (...) e excita também as
nervuras mais secretas da nossa habitação corporal e espacial do mundo”. Deste
modo, conclui-se, o poema “não põe ideias em verso; desenha e declina versões
de mundos que são outros tantos esboços de uma outra economia possível da
existência (...)”. Neste contexto, a poesia é um “tonificante da existência”.
Deixando para uma
reflexão posterior outras considerações do filósofo francês, salientamos apenas
que a poesia se apresenta e propõe ao leitor como uma instância provocadora
total, dirigindo-se à inteligência, ao coração, numa dinâmica que supera
largamente a mera comunicação. Estou convencido que, quando se apreender esta
dinâmica, a poesia tornar-se-á mais próxima de todos e, sobretudo, da escola e
dos seus habitantes.
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